sexta-feira

maya II

Um dia ainda farei um longo compêndio em ordem alfabética de minhas ilusões, classificadas e comparadas, para ter a impressão de que as conheço tão bem que posso domá-las. Então tentarei emparedá-las junto às denunciadas pelos grandes livros, especialmente os que não julgo tão fruto da vaidade quanto da necessidade. A que conclusões chegaria? Provavelmente, que os conteúdos repetem-se nos homens, ou melhor, que os conteúdos manifestam-se através dos homens. Quando duas pessoas conversam, muito longe da impressão vaga de comunicação, há um aperto de mãos entre palavras, encaixes semânticos e lógicos que cordialmente cumprimentam-se na rua. As tentativas de tocar o outro, sobretudo as desesperadas, esbarram no Véu. Quão confortável é pensar que estamos em contato uns com os outros... E, no entanto, quem partilha desse falso conforto experimenta uma falsa suspensão momentânea da solidão. Raros são os momentos em que o Véu se abre. Neles não há palavra, não há lógica - pelo menos não aquela lógica que faz sentido. Eles são preenchidos por longos silêncios às vezes desassossegados, às vezes pacíficos. São quentes e úmidos como a floresta à noite, sua presença apenas discernível à nossa frente. São o hálito da vertigem; a percepção ora difusa ora aguda da consciência por trás dos olhos (claros ou escuros, olhos são negros).

Um comentário:

Anônimo disse...

aquela história de que vc escreve mais e melhor quando vc tá triste, elle marche encore?
mau sinal...