terça-feira

uma drágea angular e fibrosa

Raro é o prazer de se descobrir um novo autor com o qual descobre-se a si mesmo. Nestas férias deparei-me com um que há tempos desejava experimentar. Como a um novo drinque, uma mistura cujo sabor ainda não era capaz de conceber. Segue sem desnecessários comentários o excerto de "Diário de um ladrão", texto autobiográfico de Jean Genet:


"(...) Outras vezes, eu me recomendava não a Deus mas àquela náusea que me faziam experimentar os ofícios religiosos, a sombra das capelas em que vigiam virgens e velas vestidas para o baile, o canto dos mortos ou o simples apagador das velas. Anoto essa curiosa impressão pois tinha uma certa analogia com a que, durante toda a vida, hei de conhecer em circunstâncias muito afastadas do que acabo de descrever. O Exército, as instalações da polícia e os seus hóspedes, as prisões, um apartamento assaltado, a alma da floresta, a alma de um rio (a ameaça - repreensão ou congratulação pela sua presença de noite) e, cada vez mais, cada mesma sensação de nojo e temor que me faz pensar que a idéia de Deus eu a alimento nas minhas tripas."

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