sábado

in bloom

Nas ranhuras das pedras achar. Pelos detalhes recompor. Em um gesto redescobrir o amor. Num gole reconstituir os sabores e cheiros de uma viagem distante. A memória das coisas. Da pele. No calor do magma uma lembrança solar. Num instante de silêncio a harmonia em fuga de um olhar da mulher amada. Um membro perdido que regenera a totalidade do corpo. No mármore afrescos abstratos. Sob as unhas a dilacerante multiplicidade de formas evanescentes. Numa lua a adolescência e num sol a infância. À tarde dum dia qualquer, aos ventos minuanos, o sentimento oceânico de se viver num mundo ele mesmo vivo, tão mutável quanto em si, tão largo quanto raso. Estar aqui, nesta cidade sob esta lâmpada, estando em todas as cidades sob todas as lâmpadas que já se acenderam e se apagaram. A crista moicana duma onda que sempre volta a quebrar e volver, refluir para o centro do mar sem fim, plácido e vulcânico, azul e fatal, devaneio real de dias sem nome ou número, perdido numa vida sem décadas.

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