Tal qual uma cena de um videoclipe do Tool que um druida amigo meu me mostrou. Um passeio pelo lado de lá. Uma temporada. Visitei o Tártaro. Vi as pedras angulares e os platôs por onde os caçadores soltam seus falcões. O hálito do falcão é frio e úmido como um pântano. A força mais fundamental, essa libélula carnuda que habita o peito, se agita sobremodo, tentando escapar pelo nariz, pela boca, pelos olhos, chocando-se com o limite do corpo como uma abelha contra o vidro da janela diurna. Mas o corpo todo já é o Tártaro. Como é devastadora essa consciência, no momento em que ela vem. Lembra uma retroescavadeira.
No entanto, mesmo ainda mergulhado em estranho cenário, vejo vindo no ar uma rasa aurora. É mais um cheiro que uma visão -- o que a faz tanto mais certa, uma vez que o olfato raramente se engana --, um aroma distante de manjericão. Ou de café recém-coado. À essa imagem já a libélua carnuda se acalma um pouco. Aguarda a tempestade vermelha que vai pôr abaixo o Tártaro, os caçadores, os falcões, os pântanos, os platôs. Então guarda forças em pequenos copos que vai acumulando. Depois acorda e volta a debater-se.
Já é a nuvem púrpura que vem ou é só o meu querer que ela venha que me engana? É fácil descer o Averno. Os grilos tilintam na amurada como sempre o fizeram. O homem que entra no Ganges e o que sai não são o mesmo, este é mais forte que aquele. Mais novo, mais terrestre, mais celestial, mais real.
Feliz ano novo a tod@s. Como no mito de Er, o blogue Coluna de Ar volta do Hades. Durante muito tempo considerei a possibilidade de um bloguecídio definitivo, sem retorno. Foi um estímulo o reavivou, como uma massagem cardíaca. Quem é sabe. É de pequenos estímulos que se alimenta quem de rojões se empanturrou. São digestivos. Melhores licores, menores taças. Sabe como é. Muito obrigado a tod@s que contribuíram direta ou indiretamente para que bons ventos soprassem nesse ano difícil que se foi. Sintam-se abraçad@s e beijad@s!
Aproveito para anunciar uma pequena pausa nas postagens. Não sem um sorriso malicioso de quem volta do mundo dos mortos e anuncia que vai tirar um cochilo. O sono, esse estranho irmão da morte! Ou como o malandrim que trabalha um, descansa um dois, trabalha três, descansa um dois três quatro. Mas não é picaretagem não. Volto em mais ou menos um mês. Trarei fotos! ;)
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