Exteriorizar uma imagem sonora é dar-lhe alguma realidade mais definitiva que aquela área de realidade vivida não no tempo mais ou menos linear das ações irrevogáveis, mas na constante atualidade de uma melodia que pulsa e ondula ou de blocos harmônicos superpostos em sutil desequilíbrio? Mmm... Percebo que escrevi realidade. Mas que palavrinha mais vazia de conteúdo. Tudo pode preenchê-la assim como nada a esgota. Complica-se ainda mais se a questão é a definitividade de qualquer realidade. Tudo é fugaz. Ou melhor, tudo flui. O registro escrito sobre papel seria mais longevo. Mas, além da minha consciência pesada ao pensar em árvores, seus habitantes e todo o intricado sistema de relações orgânicas ameaçado com o meu esporádico afã pela durabilidade, alimento uma vaga e rarefeita ilusão de que há uma espécie de comunidade ou, como no obscuro conto do Borges, uma seita, sabe-se lá, talvez mesmo uma força imaterial, invisível, uma radiação mais lenta, fruto do meu contato prematuro com a ficção (como é mesmo o nome do autor que nos alerta para as perniciosas influências da arte na conduta mental dos indivíduos?), capaz de dar as mais diversas interpretações a estes fragmentos que, por si, teriam talvez menos leitores no papel. Contudo, estes poucos leitores - digo-o porque os conheço - são como as poucas estrelas de uma constelação austral nas quais leio a minha posição relativa em um globo inteiramente coberto por profundos e espessos oceanos...
Estes fragmentos são dedicados a todos que os lerem, especialmente àqueles que estão sempre ao meu lado. Sobretudo você, Vi.
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